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segunda-feira, 14 de maio de 2012

As Iauô

As Religiões no Rio - João do Rio
No mundo dos feitiços – Os Feiticeiros

A recordação de um fato triste - a morte de uma rapariga que fora à Bahia fazer-santo - deu-me ânimo e curiosidade para estudar um dos mais bárbaros e inexplicáveis costumes dos fetiches do Rio.
Fazer-santo é a renda direta dos babaloxás, mas ser filha-de-santo é sacrificar a liberdade, escravizar-se, sofrer, delirar.
Os transeuntes honestos, que passeiam na rua com indiferença, não imaginam sequer as cenas de Salpetrière africana, passadas por trás das rótulas sujas.
As iauô abundam nesta Babel da crença, cruzam-se com a gente diariamente, sorriem aos soldados ébrios nos prostíbulos baratos, mercadejam doces nas praças, às portas dos estabelecimentos comerciais, fornecem ao Hospício a sua quota de loucura, propagam a histeria entre as senhoras honestas e as cocottes, exploram e são exploradas, vivem da crendice e alimentam o caftismo inconsciente.
As iauô, são as demoníacas e as grandes farsistas da raça preta, as obsedadas e as delirantes.
A história de cada uma delas, quando não é uma sinistra pantomima de álcool e mancebia, é um tecido de fatos cruéis, anormais, inéditos, feitos de invisível, de sangue e de morte. Nas iauô está a base do culto africano.
Todas elas usam sinais exteriores do santo, as vestimentas simbólicas, os rosários e os colares de contas com as cores preferidas da divindade a que pertencem; todas elas estão ligadas ao rito selvagem por mistérios que as obrigam a gastar a vida em festejos, a sentir o santo e a respeitar o pai-de-santo.

Texto:
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura

Sobre o autor
João do Rio
Sobre a foto
José Medeiros