De acordo com a crença dos iorubas, antes do nascimento de
uma criança, ou renascida, o guardião ancestral aparece diante de Olorun para
receber o novo corpo, a nova respiração, e (ìwà ìpín) seu destino, para a sua
nova vida. Ajoelhando diante de Olorun, ele dá oportunidade a essa alma de
escolher o seu próprio destino, sendo capaz de fazer qualquer escolha que
desejar. Entretanto Ele pode negar os pedidos que considerar sem sentido a
humildade. O destino compreende a personalidade do indivíduo, sua ocupação, e
sua sorte; e também o dia fixado em que as almas deverão retornar para o paraíso.
Os iorubas realçam a importância do guardião ancestral da
alma, como se fosse uma divindade. “A cabeça é a principal divindade de um
indivíduo. É mais importante do que sua própria divindade. É a mais velha e
mais poderosa dentre todas as divindades".
O dia da morte não pode ser postergado, mas outros aspectos
do destino podem ser modificados por atos humanos ou forças e seres
sobrenaturais. Se o individuo possuir plena proteção e apoio de seu guardião,
de Olorun e de outras divindades, poderá desfrutar do destino prometido e gozar
plenamente a vida; caso contrário poderá submeter-se às bençãos destinadas a
ele ou morrer antes do tempo. Através da vida um individuo faz sacrifícios para
seu guardião e para as divindades; protege-se do mal através de encantamentos e
preparos mágicos; e quando tiver em situação difícil consulta o adivinho para
determinar o que deverá ser feito para melhorar. Também consulta o adivinho
antes de um novo empreendimento para saber qual sacrifício será necessário para
assegurar a realização.
Na morte as múltiplas almas deixam o corpo e normalmente vão
para o paraíso, lá permanecendo até que a reencarnação da alma guardiã. Pessoas
que morrem antes do tempo permanecem na terra como espíritos, em cidades longínquas
onde não serão reconhecidas até o dia apontado por Olorun chegar e que elas
possam "morrer" uma segunda morte e ir para o céu. Quando as três
almas chegam ao outro mundo Olorum designa quem deverá ir para a "boa ou
para a má morada", dependendo do comportamento que tiveram aqui na terra.
Os que forem enviados para a má morada não poderão ser devolvidos para os vivos
através de reencarnação; tampouco os suicidas, que nunca atingirão o paraíso
tornando-se maus espíritos que se agarram no topo das árvores tal como
borboletas ou morcegos.
Se uma mulher tiver muitos filhos que morrerem
sucessivamente após o parto, na infância ou um pouco mais velhas, provavelmente
não serão a sucessão de vário guardiães e sim de uma única alma ancestral que
renasce repetidamente para voltar novamente para o outro mundo onde mantém sua
forma infantil. Essa alma não quer permanecer por muito tempo na terra,
preferindo viver no outro mundo ou desejando apenas ir e vir entre o céu e a
terra conforme Olorun lhe garantiu. Essas crianças são conhecidas como (àbíkú)
ou "nascidas para morrer". Suas mães podem fazer parte do Egbé Ogbà,
um culto para apaziguar os abiku no qual os membros usam grandes guizos nos
joelhos. O cadáver de uma criança poderá ser marcado por um pondo raspado na
sua cabeça ou por um pequeno corte na orelha para provar que foi abiku nesta
vida e que voltará com a mesma marca na próxima. O cadáver de um abiku também
poderá ter um dedo mutilado ou ser queimado para ameaça-lo e intimidá-lo para
permanecer na terra quando renascer. Nos versos divinatórios recomenda-se aos
consultantes oferecerem sacrifícios aos abiku para evitar que seus filhos
tenham esse mesmo destino. Orunmila ofereceu um sacrifício antes de casar-se
com um abiku, que viveu por muito tempo. Num dos versos está escrito “Pobre do
arco íris” vive morrendo como um abiku porque seus pais não conhecem seu
verdadeiro nome".
Prescreve-se também um sacrifício para os gêmeos. Ibeji (gêmeos)
não são tão maus quanto abikus, porém são temidos por serem poderosos e poderem
causar mal ou mesmo a morte de seus pais. Quando nascem gêmeos costuma-se
enterrar parcialmente dois pequenos potes no canto de seu quarto onde se
oferecem sacrifícios. Quando morre um gêmeo, seus pais encomendam uma estatueta
(ére ibéjì) para um entalhador do mesmo sexo que ele e com marcas faciais que
identificam sua linhagem. Se o segundo gêmeo também morrer enquanto jovem,
entalha-se a segunda imagem. Tal como os abiku, os gêmeos conservam a mesma
imagem no outro mundo, e passam o tempo brincando. Os gêmeos e os abiku não são
divindades; os sacrifícios oferecidos a eles são para as suas almas. Ha um
verso que conta como as pessoas começaram a cozinhar inhames temperados, milho
cozido e bananas e inhames fritos para os gêmeos.
William Russell Bascom
1912-1981
William R. Bascom nasceu em 1912 em Princeton, Illinois.
Diplomou-se em Física no ano de 1933 na Universidade de
Wisconsin, Madison.
Decidiu tomar um rumo diferente em carreira obtendo o
mestrado em Antropologia em 1936.
Em 1939, foi o primeiro aluno a receber um Ph. D. em Antropologia
na Northwestern University como discípulo de Melville Herskovits.
Publicou Sixteen Cowries: Yoruba Divination from Africa to
the New World (1980) Dezesseis búzios: adivinhação ioruba da África para o Novo
Mundo (1980).
Ifa Divination, Traduzido - Bascom, William
Sixteen Cowries - Extratos do livro - Bascom, William
Sixteen cowries: Yoruba divination from Africa to the New
World
Autor William Russell Bascom
Edição reimpressão, ilustrada
Editora Indiana University Press, 1993
ISBN 0253208475, 9780253208477
Num. págs. 790 páginas