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sexta-feira, 4 de maio de 2012

O espetáculo ioruba e a transformação do ritual

Ritual Ioruba - interpretes, espetáculo, desempenho

A autora usa os termos "ritual" para designar etutu, "festival" para odun, "espetáculo para iran, e "atuação" ou "improviso" para ere. Os iorubas usam frequentemente as palavras ritual, festival, espetáculo, atuação intercambiável. As categorias de atuação e espetáculo entre os iorubas são as mais amplas. Eles concebem o espetáculo como dimensão da realidade permanente e sobrenatural, inacessível para a experiência humana, ate ser revelada por intérpretes capacitados. De fato R.C.Abraham traduz iran como "ação teatral". Os iorubas, todavia, aplicam esse termo para a maioria dos rituais religiosos. As palavra repetições e transformação (Olabiyi Yai, comunicação pessoal) são intrínsecas ao significado de iran (espetáculo). Por conseguinte iran deriva do verbo ran; então ranti (ran eti) significa lembrar; ranfa (ran Ifa) recitar versos; e ranse (ran ise) enviar recado por um mensageiro, recado esse que será entregue com a interpretação do mensageiro. Em cada caso, a repetição é uma revisão de tudo o que for repetido. A palavra iorubá (aworan) para representação visual é baseada no mesmo princípio de interpretação, assim como espectador (aworan) também é. O papel dos intérpretes capacitados é o de trazer o outro mundo periodicamente à luz para que seja experimentado e contemplado. Nesse sentido, o espetáculo ioruba é, por definição, o reestabelecimento de um comportamento baseado nas praticas de incorporação dos seus interpretes.
A representação é um conceito mais amplo e genérico do que o espetáculo. Todo espetáculo ioruba é uma atuação, porém nem toda atuação é um espetáculo. O que os iorubas entendem por atuação, ere (substantivo) ou sere (verbo), é muito mais difícil de comunicar, devido à noção capitalista que a palavra atuação carrega na sua bagagem cultural, que frequentemente se opõe a noção de trabalho. A realização de um ritual é simultaneamente "trabalho duro" e "atuação". O que certamente uma atuação não significa para os iorubas é algo leviano, frívolo e impotente. Eles usam a palavra - yeye - para designar uma peça frívola, frequentemente traduzida por iorubas para o inglês como "nonsense" (besteira). Yeye é uma peça gratuita e inútil, um besteirol. Porém quando os iorubas usam a palavra peça (atuação), referem-se diretamente a ere ou sere. A atuação - assim como espetáculo ioruba - é, mais especificamente, engajar-se num processo de participação e transformação que é frequentemente, mas não constantemente, competitivo.

Yoruba Ritual

Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro â da liberdade do ritual ioruba, o poder de improvisação de seus intérpretes, e o desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento. Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes, base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de â estética da diáspora.

Ivor L. Miller
African Diaspora Program,
De Paul University
http://afrocubaweb.com/ivormiller/IvorIntro.pdf

Margaret Thompson Drewal 


Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.