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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os Orixás e os Alufás

As Religiões no Rio - João do Rio
No mundo dos feitiços

Os feiticeiros
Antônio, que estudou em Lagos, dizia:
- O eubá (ioruba) para os africanos é como o inglês para os povos civilizados. Quem fala o eubá pode atravessar a África e viver entre os pretos do Rio.
Só os cabindas ignoram o eubá, mas esses ignoram até a própria língua, que é muito difícil.
Quando os cabindas falam, misturam todas as línguas...
Agora os orixás e os alufás só falam o eubá.
- Orixás, Alufás? - fiz eu, admirado.
- São duas religiões inteiramente diversas. Vai ver. Com efeito.
Os negros africanos dividem-se em duas grandes crenças: os orixás e os Alufás.
Os Orixás, em maior número, são os mais complicados e os mais animistas.
Litólatras e fitólatras têm um enorme arsenal de santos, confundem os santos católicos com os seus santos, e vivem a vida dupla, encontrando em cada pedra, em cada casco de tartaruga, em cada erva, uma alma e um espírito.
Essa espécie de politeísmo bárbaro tem divindades que se manifestam e divindades invisíveis.
Os negros guardam a ideia de um Deus absoluto como o Deus católico:
Orixa-alúm.
A lista dos santos é infindável. Há o orixalá, que é o mais velho, Axum, a mãe d’água doce, Ie-man- já, a sereia, Exu, o diabo, que anda sempre detrás da porta, Sapanam, o Santíssimo Sacramento dos católicos, o Irocô, cuja aparição se faz na árvore sagrada da gameleira, o Gunocô, tremendo e grande, o Ogum, S. Jorge ou o Deus da guerra, a Dadá, a Orainha, que são invisíveis, e muitos outros, como o santo do trovão e o santo das ervas.
A juntar a essa coleção complicada, têm os negros ainda os espíritos maus e os heledás ou anjos da guarda.

João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio
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