O aparecimento de fios de contas, segundo os modelos dos
terreiros afro-brasileiros, é importante na indumentária ritual do Caboclo.
Geralmente os Diloguns são colocados nas cores representativas das divindades,
como: o vermelho para Matamba; vermelho e branco em contas rajadas são
endereçados a Zaze; o verde é de Tauamin; branco, de Lembá; preto e branco são
colocados para Burungunço e Tempo; amarelo para Caiala; contas transparentes
são de Dandalunda e os fios, nas cores verdes e amarelas, são características
dos Caboclos.
O aparecimento de Idés, em metais variados, também ajuda a
representar os Encantados protetores. Os fios das divindades masculinas são
portados a tiracolo e os das divindades femininas de maneira normal. Cordões
repletos de cabacinhas, dentes encastoados, amuletos variados e símbolos de
caça, ajudam a complementar a indumentária.
As armas ou ferramentas rituais são as flechas, arcos e
lanças; algumas machadinhas também aparecem e são utilizadas pelos Caboclos
ligados ao Inquice Zaze, Saietas e calçolões são muito encontrados nos trajes
de Caboclos, onde é observada forte influência das indumentárias dos Orixás.
Os Caboclos Capangueiros primam pelo uso de detalhes em
couro lembrando os trajes dos vaqueiros, onde chapéus, chicotes e outros
objetos comuns aparecem.
Antes do estado de possessão, as Iniciadas participam das
danças com seus trajes comuns, quer dizer, as mulheres com saia rodada, pano da
costa, turbante, camisa de crioula e chinelos. Após o contato do Encantado e
sua vinda, a Iniciada é recolhida, quando no Roncó, os trajes são trocados,
voltando, mais tarde, caracterizada com os símbolos do seu Caboclo, estando
pronta para dançar e desempenhar suas funções.
Dizem os adeptos que pena de Caboclo é de ema ou de pavão e
que todos os pelos de animais podem aparecer.
Assim, as indumentárias dos Caboclos são criadas e adequadas
às condições socioeconômicas e subjetividades dos crentes.
por Raul Giovanni da Motta Lody
Publicado em 1977, Ministério da Educação e Cultura,
Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Arte, Campanha de
Defesa do Folclore Brasileiro (Rio, RJ).
Raul Geovanni da Motta Lody (Rio de Janeiro, 1952), é um
antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos
na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Suas principais pesquisas antropológicas e etnológicas
resultaram na publicação do Dicionário de Arte Sacra e Técnicas
Afro-Brasileiras.