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terça-feira, 1 de maio de 2012

Samba de Caboclo - Musica Vocal

A temática desenvolvida nas cantigas aborda os Caboclos, sua vida nas selvas, suas boiadas - quando capangueiros; a natureza, as frutas, as lutas e os feitos heroicos, realçando a valentia e coragem. A submissão aos Orixás constituem motivos que são desenvolvidos nas rodas de Samba de Caboclo.
Além das cantigas comuns, cada linha ou tribo possui suas melodias, e certos Caboclos têm músicas próprias que relatam seus feitos. Alguns exemplos servirão para melhor mostrar as cantigas dos Caboclos:

Outras lendas relatam a vida dos Caboclos nas selvas. O exemplo que passamos a observar mostra a presença da Cabocla Jurema, personagem importante no panorama da mitologia afro-brasileira:

Com três dias de nascido
Minha mãe me abandonou
No sertão da mata virgem
Foi Jurema quem criou

Essas cantigas são entoadas quando oferecem a mesa da Jurema em honra a todos os Caboclos:

Jurema ô Jurema Juremê
Ele é caboclo de pena
Quando vem da Jurema
Ele é caboclo de pena.

Jurema ê Juremá
Jurema ê Juremá
Jurema ê Juremá
Caboclo vem da Maingá

Tindorê aê cauiça
Tindorê meu sangue re´
Eu sou filho
Eu sou neto
da Jurema
Tindorê aê cauiça

Cauiça o cauiça
é Orixá
nas horas de Deus, amém
é Orixá

A cabocla jurema também está intimamente ligada aos cultos aquáticos, em especial os rios, cacatos. A Jurema também chefia uma linha ou tribo, reunindo uma quantidade de Caboclos sob seu comando.

por Raul Giovanni da Motta Lody
Publicado em 1977, Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Arte, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (Rio, RJ).

Raul Geovanni da Motta Lody (Rio de Janeiro, 1952), é um antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Suas principais pesquisas antropológicas e etnológicas resultaram na publicação do Dicionário de Arte Sacra e Técnicas Afro-Brasileiras.

Jurema-preta (Mimosa hostilis Benth.)

É uma árvore pertencente à família Fabaceae, da ordem das Fabales típica da caatinga, ocorrendo praticamente em quase todo nordeste brasileiro. Possui espinhos e apresenta bastante resistência às secas com grande capacidade de rebrota durante todo o ano. Usada pelos índios da etnia xucurus- Sua casca é usada tradicionalmente para fins medicinais e a casca de sua raiz é a parte da planta usada nas cerimônias religiosas, pois possui maior parte dos alcalóides psicoativos.
Apesar de bastante conhecida no Nordeste do Brasil ainda não há um consenso sobre qual a classificação exata da planta popularmente conhecida por Jurema. A Jurema (Acacia Jurema mart.) é uma das muitas espécies das quais a Acacia [Acácia] é o gênero. Várias espécies de Acácia nativas do nordeste brasileiro recebem o nome popular de Jurema.

Culto

O culto da Jurema está para a Paraíba, assim como o Iroko está para a Bahia. Esta arvore tipicamente paraibana, apesar de existir também em outros estados do nordeste, era venerada pelos índios potiguares e tabajaras, muitos séculos antes da descoberta Brasil. Em Pernambuco, existe um município cujo nome é Jurema devido a grande quantidade destas árvores que ali se encontra. A jurema (mimosa hostilis) depois de crescida é uma frondosa árvore que vive mais de 200 anos. Todas as partes dessa arvore são aproveitadas: a raiz, a casca, as folhas e as sementes, utilizadas em banhos de limpeza, infusões, unguentos, bebidas e para outros fins ritualísticos. Os devotos iniciados nos rituais do culto são chamados de Juremeiros.
  
Jurema sagrada

Jurema sagrada como tradição "mágica" religiosa, ainda é um assunto pouco estudado. É uma tradição nordestina que se iniciou com o uso desta planta pelos indígenas da região norte e nordeste do Brasil, mas que, atualmente possui influências as mais variadas, e que vão desde a feitiçaria europeia até a pajelança, xamanismo indígena, passando pelas religiões africanas, pelo catolicismo popular, e até mesmo pelo esoterismo moderno, psicoterapia psicodélica e pelo cristianismo esotérico. No contexto do sincretismo brasileiro afro-ameríndio, a presença ou não da jurema como elemento sagrado do culto vem estabelecer a diferença principal entre as práticas de umbanda e do catimbó.

Origens

A jurema sagrada é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Pôr isso até hoje, os grandes mestres juremeiros conhecidos, são sempre mestiços com sangue índio e negro. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos eguns e das divindades da natureza os orixás voduns e inkices. Os índios, estes contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados.